quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Cadáver sem alma

Sucumbido, aqui deitado na areia imensa da praia, onde um dia teve a marca dos nossos pés formando um longo caminho que percorríamos todas as manhas, morro por não te ter. Sinto que o mar já não é nosso mar pois seu brilho e imensidão desapareceram. A praia deserta sem pegadas de alguém parece que desmoronou, deixando-me aqui sozinho no vazio. Sofro continuamente a falta do mar, da praia e de ti. Deixo de existir...
Pairar sobre o meu corpo é o meu destino, pois quero ter a certeza que o mar o leva da mesma forma que levou o teu. Talvez dessa forma um dia se juntarão no seu obscuro fundo sem vida, onde permanecíamos eternamente como se do nosso novo mundo se tratasse. Teremos novamente que deixar nossos corpos ao poder do mar, que já não é nosso como no primeiro dia em que te vi de frente a ele, na praia, onde estremeci junto do teu sorriso. Assistir à sua degradação é o que nos resta, pois juntos ou não esta é inevitável quando já nem a carne nos pertence. Tu corrompeste-me, sinto a alma suja...
O meu corpo é arrastado lentamente pela areia, por força do agora traiçoeiro mar. Aproxima-se o meu fim, o tão desejado fim. Estranhamente o sentimento de receio pelo que me espera não se apodera de mim, apenas mantenho fortemente os olhos abertos na esperança de te ver uma última vez, mas tu não vens, nunca. Sem ti não o sou, não me reconheço, não me vejo nem mesmo no reflexo do teu olhar sempre presente na imaginária praia. Assim vivo moribundo desde do dia em que desta mesma forma partiste pelo mar, que um dia foi nosso. Deixo-me levar, por aquilo que ainda tenho, no embalar das ondas do mar que me relembra de ti. Sou apenas um cadáver com a alma roubada...

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